As escolhas do guia mais guloso da cidade
Ao pequeno-almoço, o Fidalguinho gosta de variar. Diz que tanto toma a primeira refeição do dia em casa, como o faz fora, escolhendo o destino de acordo com a sua fome e o seu estado de espírito. Neste dia, optou por uma torrada e um galão na Confeitaria Lusitana, gozando da vista sobre o Jardim de Santa Bárbara. Na véspera, tinha ido ao brunch do Méze, onde comeu panquecas e ovos benedict (ainda que também adore os waffles do brunch do Aqui às 5). Para o dia seguinte, estava indeciso entre um pequeno-almoço tradicional — com café de saco, claro! —, na esplanada da centenária A Brasileira, ou algo mais contemporâneo no Nórdico ou no Cofeenatu. E tu, o que escolherias?
Com tantas opções, não foi fácil o Fidalguinho escolher. Acabou por se sentar à mesa da Tasquinha do Fujacal, onde se come depressa, bem e barato. Neste dia, optou pela massa à lavrador, que era o prato do dia. Se fosse fim de semana, talvez tivesse ido ao Dona Júlia — onde se teria deliciado com o Bacalhau à Júlia ou o Polvo grelhado —, ou ao Arcoense, para comer o ‘cabrito a pingar no arroz’. No dia seguinte, almoçaria com um amigo no Torres, um restaurante tradicional em Vila Verde, a funcionar há mais de 50 anos, onde pratos como o Bacalhau à Torres ou os Nacos de Vitela encantam a clientela fiel. Outro espaço que nunca falha e que o Fidalguinho recomenda, é o Tia Isabel, onde as papas de sarrabulho e outros pratos regionais são de revirar os olhos.
Ao lanche, voltaram as dúvidas. Indeciso entre uma frigideira da Sé ou uma nata das Natas d’Ouro, marca da Pastelaria Soares e para muitos as melhores da cidade, Fidalguinho acabou por parar na histórica Queijaria Central, onde aproveitou para comprar deliciosos produtos regionais. No dia anterior tinha ido às Tíbias de Braga, onde tomou um café e se deliciou com uma tíbia recheada de chantilly.
Quando vai jantar fora, sobretudo ao fim de semana, o Fidalguinho gosta de ir a restaurantes elegantes, como o Esperança Verde ou o Inato Bistrô, que praticam uma cozinha criativa sem renegar os sabores portugueses. No entanto, no dia em que nos guiou por Braga, acabámos a jantar no restaurante Tempo, onde a atmosfera contemporânea é harmonizada com uma cozinha regional cuidada. No final, ficou prometida uma ida ao Rochedo, em Priscos, famoso não só pelo marisco, mas também pela qualidade de pratos clássicos como o polvo à lagareiro.
Pois é, a seguir ao jantar, quem escreve estas linhas foi descansar, mas o enérgico Fidalguinho, esse, ainda quis ir tomar um copo aos bares da Sé. Segundo nos contou depois, encontrou conhecidos em todas as esplanadas, mas acabou por terminar a noite no Dona Petisca, onde bebeu um fino e comeu uma sanduíche de pernil. Ali, entre amigos, combinaram a saída do próximo fim de semana: iriam ao Lustre assistir a um concerto ao vivo e dar um pezinho de dança.
Com vinte e muitos anos, nascido e criado em Braga, o Fidalguinho é o guia turístico mais acarinhado da cidade. Otimista, descontraído e muito falador, conhece histórias e piadas capazes de alegrar o espírito da pessoa mais empedernida. Em pequeno, já se destacava na rua do Souto, onde cresceu na mercearia da sua avó Maria. Aliás, é comum ouvi-lo a afirmar, orgulhosamente, ser a pessoa que mais subiu e desceu aquela mítica rua. Sempre de sorriso posto, não perde uma oportunidade de conhecer pessoas e de lhes mostrar o burgo pelo qual é apaixonado. Com uma energia contagiante, fala tão rápido que parece que as suas palavras estão a correr uma maratona! Encontra beleza em qualquer cantinho da cidade e basta que ouça a palavra ‘Braga’ para ficar todo arrepiado. Apesar de não ser fluente em inglês — nem em qualquer outra língua estrangeira, sejamos sinceros —, o Fidalguinho tem o dom de se fazer entender através de gestos cómicos e expressões faciais hilariantes. Consegue assim comunicar com toda a gente, venham da vizinha Espanha ou da lonqínqua Mongólia: um verdadeiro mestre na arte da mímica turística. Só há uma coisa que nunca entendeu: por que raio se chama Fidalguinho?