Não há nada como o cheirinho das mercearias antigas! Entrar no mercado de S. João é inspirar essa mescla de aromas que nos levam a outras épocas e iluminam lembranças, sejam elas afetivas porque vividas na primeira pessoa — talvez pela mão de um avô —, sejam do imaginário que fomos acumulando a partir de livros ou filmes. Memórias intemporais, tais como esta loja de bairro, que continua a bem servir clientes, mesmo com 130 anos em cima dos ombros. Ou seria melhor dizer “em cima do lombo”?
Isto porque o mercado de S. João, a funcionar com este nome desde 1894, é conhecido pelos magníficos lombos de bacalhau (e restantes partes do fiel amigo), que vende durante todo o ano, com especial procura na quadra natalícia. Um produto que os proprietários fazem questão de divulgar de forma chamativa, desde logo no exterior da loja, conferindo ao espaço uma atmosfera castiça, que arranca sorrisos a todos os que por ali passam.
Lá dentro, nas prateleiras apinhadas, vinhos, licores, azeites e conservas acotovelam-se e competem pela atenção, tanto de clientes regulares, como dos turistas que acorrem à loja cada vez em maior número, atraídos pelo seu perfil centenário. Mas face a tão vasta oferta, em caso de indecisão, entra Manuel Machado em ação, que aos comandos do Mercado, conhece os produtos como a palma da mão!
O FIDALGUINHO É QUE SABE!
O Mercado de São João é um exemplo de resiliência e superação. Ao longo de todas estas décadas, o negócio foi conseguindo ultrapassar com sucesso vários momentos difíceis, tais como duas guerras mundiais (que implicaram racionamento de bens e decréscimo nas vendas) e um incêndio no ano 2000, que obrigou a obras de remodelação.


Com vinte e muitos anos, nascido e criado em Braga, o Fidalguinho é o guia turístico mais acarinhado da cidade. Otimista, descontraído e muito falador, conhece histórias e piadas capazes de alegrar o espírito da pessoa mais empedernida. Em pequeno, já se destacava na rua do Souto, onde cresceu na mercearia da sua avó Maria. Aliás, é comum ouvi-lo a afirmar, orgulhosamente, ser a pessoa que mais subiu e desceu aquela mítica rua. Sempre de sorriso posto, não perde uma oportunidade de conhecer pessoas e de lhes mostrar o burgo pelo qual é apaixonado. Com uma energia contagiante, fala tão rápido que parece que as suas palavras estão a correr uma maratona! Encontra beleza em qualquer cantinho da cidade e basta que ouça a palavra ‘Braga’ para ficar todo arrepiado. Apesar de não ser fluente em inglês — nem em qualquer outra língua estrangeira, sejamos sinceros —, o Fidalguinho tem o dom de se fazer entender através de gestos cómicos e expressões faciais hilariantes. Consegue assim comunicar com toda a gente, venham da vizinha Espanha ou da lonqínqua Mongólia: um verdadeiro mestre na arte da mímica turística. Só há uma coisa que nunca entendeu: por que raio se chama Fidalguinho?