Os moletinhos são uma espécie de arrufadas ou pãezinhos de leite — fofos e com uma cobertura adocicada —, apenas disponíveis nas confeitarias da cidade em dois momentos: o Dia de São Vicente (22 de janeiro) e o Dia do Pai (19 de março, Dia de São José). Com sorte, poderás também encontrá-los nos dias em redor destas datas. A tradição terá surgido na Doçaria S. Vicente, ainda de portas abertas após mais de 100 anos de atividade. Assados em grandes tabuleiros, todos juntos, os moletinhos devem ser separados — e comidos —, à mão, e não com uma faca, para não secarem!
Para além do bacalhau e das sobremesas típicas comuns a todo o país, como as rabanadas, o arroz-doce, a aletria, o bolo-rei e o leite-creme — que podem em Braga apresentar uma ou outra variação —, o Natal por cá conta com outras tradições ligadas à comida, bastante singulares, que o Fidalguinho adora dar a conhecer.
O QUE SOBRA DA CONSOADA FICA NA MESA
Nas casas bracarenses e minhotas, no final da ceia de Natal, é hábito não se levantar a comida, deixando-a na mesa até ao dia seguinte. O costume está relacionado com a antiga crença de que os anjos e as almas poderiam aparecer durante a noite para se alimentarem e, caso não encontrassem comida, algum azar ou maldição poderia suceder à família
FRIGIDEIRAS
Acompanhada de uma boa salada, uma frigideira dá um belo prato principal, mas este pastel salgado é mais consumido pelos bracarenses como entrada ou lanche. Esta criação culinária, feita de massa folhada e carne picada, teve berço no mais antigo estabelecimento de restauração de Braga ainda em funcionamento — as Frigideiras do Cantinho, de portas abertas desde 1796. Para além de longa, a história das frigideiras é célebre, tendo sido referidas em obras de importantes escritores portugueses, como Júlio Dinis e Camilo Castelo Branco. Porque se chamam assim? Com uma origem tão longínqua, nem o Fidalguinho consegue ter a certeza: há quem diga que se deve ao facto da carne do recheio, nos seus primórdios, ser salteada, ou frigida, na frigideira. Outra teoria diz que, antes de começar a ser cozinhado no forno, também o pastel era cozido nesse utensílio de cozinha
VÉSPERA DE NATAL NO BANANEIRO
Já provaste a combinação banana + moscatel? Se ainda não conheces, na próxima véspera de Natal junta-te ao Fidalguinho e a milhares de bracarenses, e celebra o Natal com esta dupla de sabores. Sobre a origem da tradição, com cerca de 50 anos, não existe apenas uma versão, mas podemos assegurar que tudo começou com um grupo de jovens que, numa véspera de Natal, foi à Casa das Bananas (mais conhecida como Bananeiro), na rua do Souto, fazer um brinde com moscatel, tendo acompanhado a bebida com uma banana — isto porque o dono da loja, quando via que as bananas já estavam muito maduras, oferecia uma a quem comprasse um copo de Moscatel, porque achava uma boa combinação. O grupo gostou tanto da experiência, que voltou no ano seguinte e no ano a seguir também, levando sempre cada vez mais gente consigo. O passa-a-palavra ganhou contornos de avalanche e hoje são milhares as pessoas que enchem a famosa artéria para participarem na tradição, entretanto batizada de ‘Bananeiro’ e replicada noutras cidades do Minho. Em Braga, há agora um Bananeiro dos pequeninos: na Praça Conde de Agrolongo, logo na manhã da véspera de Natal, são montadas banquinhas onde se serve, entre outras coisas, sumo em copos de chocolate, e não falta animação.
MAÇÃS ‘PORTA DA LOJA’ COM VINHO VERDE
A tradição de comer, na consoada, maçãs porta da loja assadas no borralho e misturadas com Vinho Verde tinto e açúcar está agora confinada às zonas mais rurais de Braga, mas esta variedade regional de maçã tem vindo a recuperar a sua importância. Foi introduzida no século XI pelos monges beneditinos, no Mosteiro de Tibães, e o seu sabor doce e a sua grande capacidade de conservação depressa fizeram com que toda a gente na região quisesse ter macieiras destas nos seus quintais. A curiosa designação surgiu da forma como antigamente eram armazenadas estas maçãs de aspeto rústico, vermelhas com apontamentos esverdeados: pousadas em prateleiras atrás da porta da ‘loja’, divisão escura e húmida no rés-do-chão das casas, usada como adega e armazém, com zonas de respiro junto à porta. Quando o dono da casa queria comer uma destas maçãs, ordenava: “tragam-me uma maçã das que estão atrás da porta da loja!”, e daí nasceu o nome. Estas maçãs são colhidas aquando das primeiras geadas, normalmente em novembro, e, quando bem conservadas, mantêm até à Páscoa o seu sabor e firmeza — tanto que em Braga havia a tradição de, na Páscoa, oferecer-se maçãs porta da loja aos párocos das freguesias.
S. Geraldo, o padroeiro da cidade, é venerado a 5 de dezembro na Capela com o seu nome, integrada no edificado da Sé Catedral, de uma forma muito peculiar. Reza a lenda que, no final da vida e extremamente doente, S. Geraldo pediu fruta para comer. Só que era inverno e as árvores estavam vazias, pelo que lhe disseram que não era possível atender ao seu desejo. S. Geraldo respondeu então para irem procurar de novo e o milagre aconteceu: as árvores encontravam-se agora repletas de fruta. É por isso que, todos os anos no seu dia, a Capela abre-se ao público fartamente decorada com fruta, oferecendo um espetacular efeito cénico.
Com vinte e muitos anos, nascido e criado em Braga, o Fidalguinho é o guia turístico mais acarinhado da cidade. Otimista, descontraído e muito falador, conhece histórias e piadas capazes de alegrar o espírito da pessoa mais empedernida. Em pequeno, já se destacava na rua do Souto, onde cresceu na mercearia da sua avó Maria. Aliás, é comum ouvi-lo a afirmar, orgulhosamente, ser a pessoa que mais subiu e desceu aquela mítica rua. Sempre de sorriso posto, não perde uma oportunidade de conhecer pessoas e de lhes mostrar o burgo pelo qual é apaixonado. Com uma energia contagiante, fala tão rápido que parece que as suas palavras estão a correr uma maratona! Encontra beleza em qualquer cantinho da cidade e basta que ouça a palavra ‘Braga’ para ficar todo arrepiado. Apesar de não ser fluente em inglês — nem em qualquer outra língua estrangeira, sejamos sinceros —, o Fidalguinho tem o dom de se fazer entender através de gestos cómicos e expressões faciais hilariantes. Consegue assim comunicar com toda a gente, venham da vizinha Espanha ou da lonqínqua Mongólia: um verdadeiro mestre na arte da mímica turística. Só há uma coisa que nunca entendeu: por que raio se chama Fidalguinho?