Braga é uma cidade de emoções. Ponto de encontro de gente, de ideias e de culturas. Aqui há juventude — olá, universidade do minho! Há sábios anciãos e há quem chegue de outros cantos do mundo. Há património e há identidade. Há artes e ofícios únicos. Há velhos hábitos para manter. E novos para criar. Uma cidade que adora o seu passado, mas que vive com os dois pés no futuro. Quanto ao presente, esse é para aproveitar ao máximo! Para que possas seguir o exemplo do fidalguinho, que não perde um único acontecimento, concerto ou exposição, apresentamos-te os principais espaços e dinâmicas culturais da cidade, incluindo as suas famosas tradições.
Por Fidalguinho
Sim: theatro e não teatro, pois quando este espaço cultural nasceu, a língua portuguesa era ainda mais traiçoeira. Foi em 1915 que o famoso Theatro Circo abriu ao público as suas portas e o seu maravilhoso interior. São mais de cem anos a dar-nos teatro, música, cinema, dança e, claro, circo — o nome deve-se ao facto de, na época da sua fundação, o circo ser um espetáculo muito popular, que ali subia ao palco regularmente. A iniciativa de construção partiu de três amigos bracarenses e o arquiteto foi João de Moura Coutinho de Paiva Cardoso de Lima de Almeida d’Eça — ufa, pausa para respirar! —, que assinou outras obras ilustres em Braga, como o edifício do Banco de Portugal, na Praça da República.
Seguindo os mais elevados padrões da época, nomeadamente os que eram ditados por Itália, e após competentes obras de restauro, o Theatro Circo continua a ser um dos mais bonitos teatros europeus. Palmas para as colunas em mármore rosa do foyer, para os laboriosos dourados dos tetos, para os dramáticos cortinados em veludo vermelho, para o histórico telão de boca de cena, para o luxo do Salão Nobre… Para além da sala principal, o Theatro Circo dispõe ainda de um pequeno auditório. A sua programação é eclética, indo ao encontro dos diferentes gostos e públicos.
Avenida da Liberdade n.º 697
Instalada na antiga estufa de um dos pequenos ‘pulmões’ de Braga — o Parque da Ponte, no final da Avenida da Liberdade —, a Videoteca dedica-se à promoção e divulgação cultural, com especial foco no cinema. Possui uma biblioteca e uma ludoteca com milhares de jogos de tabuleiro. No verão, transforma-se numa das ‘Bibliotecas de Jardim’, iniciativa da Câmara Municipal de Braga de incentivo à leitura, que tira partido da envolvência natural do espaço. Em termos arquitetónicos, o pequeno edifício segue o estilo característico da época do Estado Novo, à semelhança do vizinho Estádio 1º de Maio.
Parque da Ponte
Acima de tudo, um ‘cluster’ criativo, o GNRation nasceu no âmbito da iniciativa Braga Capital Europeia da Juventude 2012. Música contemporânea e manifestações que expressam a relação entre arte e tecnologia são o forte da programação deste espaço, cujo nome é um trocadilho entre ‘Generation’ e ‘GNR’, inspirado no facto de estar instalado num antigo quartel da Guarda Nacional Republicana. O projeto de reabilitação do edifício ficou a cargo do atelier de arquitetura Carvalho Araújo. Aqui, há atividades performativas, expositivas e educativas — um espaço multifacetado, que integra ainda um restaurante de comida saudável, uma incubadora de empresas, a Loja da Juventude do município e os estúdios da Rádio Universitária do Minho.
Praça Conde de Agrolongo
Desenhado nos anos 80 do século XX por Eduardo Souto Moura, um dos mais premiados e influentes arquitetos portugueses, o espaço nunca se conseguiu afirmar enquanto mercado tradicional. Recentemente, sofreu obras de requalificação sob orientação do mesmo arquiteto, com o objetivo de oferecer à cidade um novo polo de cultura contemporânea, especialmente dedicado à dança, com uma escola e espaços para espetáculos e exposições.
Rua Dr. Costa Júnior
Desenhado nos anos 80 do século XX por Eduardo Souto Moura, um dos mais premiados e influentes arquitetos portugueses, o espaço nunca se conseguiu afirmar enquanto mercado tradicional. Recentemente, sofreu obras de requalificação sob orientação do mesmo arquiteto, com o objetivo de oferecer à cidade um novo polo de cultura contemporânea, especialmente dedicado à dança, com uma escola e espaços para espetáculos e exposições.
Largo da Senhora-a-Branca, 23
Em 2025, Braga será a Capital Portuguesa da Cultura. O objetivo é valorizar o caráter transformador da cultura e apoiar a implementação de estratégias culturais que criem legados para o futuro. Por isso, se Braga já se orgulhava do seu dinamismo cultural, 2025 será um ano ainda mais intenso e estimulante!
Destinado a eventos de grande dimensão, o Altice Fórum Braga é um espaço polivalente, que tanto recebe congressos e feiras profissionais, como exposições temáticas, competições desportivas, concertos de rock ou espetáculos de stand-up comedy. O nome remete para a herança romana da cidade, mas este é um fórum moderno, confortável, acessível a todos e equipado com a mais recente tecnologia audiovisual.
Av. Dr. Francisco Pires Gonçalves
António Nogueira da Silva, que viveu entre 1901 e 1976, era membro da burguesia bracarense e um ávido colecionador de arte. O seu gosto era eclético e ao longo da sua vida tanto adquiriu obras de pintura e escultura, como peças de mobiliário, ourivesaria e tapeçaria. Com uma profunda consciência sociocultural e amante da sua cidade, deixou em testamento a sua bonita casa com jardim e a sua coleção particular à Universidade do Minho. Um património rico e variado, que justifica uma visita ao Museu.
Avenida Central, 61
Neste espaço podes visitar várias exposições e observar diversos achados históricos, acompanhados da devida contextualização. Utensílios de cozinha, moedas, marcos miliários e túmulos fazem parte desta vasta coleção, que integra objetos da época romana e de outras fases da ocupação humana no território noroeste português, alguns com mais de cem mil anos!
Rua dos Bombeiros Voluntários
Lembras-te de termos falado nas torres medievais de Braga e do facto de restarem apenas duas? É aqui, no Museu Pio XII, que vais poder visitar uma delas: a Torre de Santiago (entrada pelo Largo de São Paulo). Os seus pisos foram transformados em espaços de exposição e é aqui que pode ser contemplada a capela-oratório desenhada por André Soares, dedicado a Nossa Senhora da Torre. No último piso, podes deliciar-te com uma bonita vista sobre o centro histórico. O museu acolhe ainda uma coleção do pintor Henrique Medina, um dos mais destacados retratistas portugueses do século XX, e um interessante espólio de arqueologia.
Largo de Santiago, 47
António Nogueira da Silva, que viveu entre 1901 e 1976, era membro da burguesia bracarense e um ávido colecionador de arte. O seu gosto era eclético e ao longo da sua vida tanto adquiriu obras de pintura e escultura, como peças de mobiliário, ourivesaria e tapeçaria. Com uma profunda consciência sociocultural e amante da sua cidade, deixou em testamento a sua bonita casa com jardim e a sua coleção particular à Universidade do Minho. Um património rico e variado, que justifica uma visita ao Museu.
Avenida Central, 61
Os trajes tradicionais minhotos são parte muito especial do património cultural da região e aqui podem ser apreciados o seu colorido, história e simbolismo. A fazer companhia às peças de vestuário, estão diversos instrumentos da música popular, como as concertinas, os cavaquinhos ou os bombos. Um espaço para se ficar a conhecer melhor o povo e as tradições de Braga, nomeadamente a arte do bordado. O nome do espaço é uma homenagem a Gonçalo António da Silva Ferreira Sampaio. Este estudioso da botânica nascido na Póvoa de Lanhoso, distrito de Braga, tinha uma paixão pela etnografia do Baixo Minho, tendo deixado um notável trabalho de recolha de danças e cantares tradicionais da região.
Rua do Raio, 2
Esta é uma galeria privada, mas que se encontra aberta ao público. Apesar de localizada fora da cidade, vai valer a pena incluíres esta experiência de arte contemporânea no teu roteiro. Para além das coleções de arte, a arquitetura do edifício — um projeto assinado por Carvalho Araújo —, a natureza envolvente e as vistas sobre a cidade, são trunfos do espaço. Nas salas de exposição e nos jardins vais poder admirar trabalhos de nomes conceituados, como Pedro Cabrita Reis, Julião Sarmento, Joana Vasconcelos, Andy Warhol, Damien Hirst ou Nan Goldin.
Quinta da Igreja — Parada de Tibães, a cerca de 7 km do centro de Braga
É o que estás a pensar: ‘braguesa’ vem de Braga. Este modelo de viola terá nascido aqui e apesar dos documentos mais antigos que a referem datarem do século XVII, acredita-se que antes disso já fosse tocada nas romarias do Minho. Caracteriza-se por ter 5 cordas duplas e escala rasa com o tampo. Ainda que algumas apresentem uma ‘boca redonda’, a mais característica é a de ‘boca de raia’ (por fazer lembrar a boca de uma raia). Após um período de algum esquecimento, a braguesa tem ganho popularidade. Atualmente, podemos ouvi-la não só em ranchos folclóricos, grupos de música tradicional e tunas universitárias, como em bandas portuguesas de música moderna, como Diabo na Cruz ou B Fachada.
São célebres as festividades da Semana Santa em Braga, atraindo milhares de pessoas todos os anos. A data pode variar, de acordo com o domingo de Páscoa de cada ano, mas o que não muda é o roxo que veste a cidade, nem as tradições, muitas delas com séculos de existência. Para além das cerimónias litúrgicas e das procissões monumentais, a cidade oferece por esses dias outras atividades, como concertos e exposições. Eis alguns dos momentos altos da programação:
É uma procissão noturna que acontece na véspera do Domingo de Ramos, ou ‘Sábado de Ramos’, recriando o percurso de sofrimento de Jesus nas horas que antecederam a sua morte.
Realizando-se desde 1597, no Domingo de Ramos, é um daos grandes acontecimentos solenes da Semana Santa bracarense.
É uma procissão noturna que acontece na véspera do Domingo de Ramos, ou ‘Sábado de Ramos’, recriando o percurso de sofrimento de Jesus nas horas que antecederam a sua morte.
Cortejo fúnebre que tem lugar na noite de Sexta-feira Santa, em que é transportado um caixão que simboliza Cristo morto. Em sinal de luto, os participantes caminham de cabeça coberta e as bandeiras e os estandartes são arrastados pelo chão como símbolo de pesar.
O nome é divertido, a sua aparência nem tanto. Os Farricocos, também chamados de Fogaréus, têm uma origem pagã. Munidos de matracas, a sua função seria anunciar a passagem de condenados e enunciar os seus crimes. Na versão católica, simbolizam os penitentes. Se andares por Braga durante a Semana Santa, pode ser que te cruzes com estas misteriosas figuras vestidas de preto, quando andarem ‘a chamar’ os Irmãos da Santa Casa da Misericórdia para a procissão.
Ao longo de Quarta-feira de Cinzas e de Quinta-feira Santa, mais de vinte igrejas da cidade abrem ao público com o Santíssimo Sacramento exposto, profusamente decoradas com flores e com o seu espólio mais valioso.
Organizada há muitos anos pela Santa Casa da Misericórdia de Braga, é um acontecimento imperdível pelo seu intenso dramatismo. Realiza-se na noite de Quinta-feira Santa e recria o julgamento de Cristo, quando Pôncio Pilatos o apresenta ao povo e pede a este para decidir. Também designada por Procissão do Senhor da Cana Verde ou dos Fogaréus, tem a sua maior atração nos Farricocos — figuras sinistras encapuzadas, que erguem tochas e caminham descalças, simbolizando os pecadores em busca de absolvição.
O dia de S. João assinala-se a 24 de junho (feriado municipal), mas as celebrações duram vários dias — afinal, esta é considerada por muitos ‘a maior festa popular de Portugal’. Não esquecendo que este é um evento com vertente religiosa, onde se incluem procissões e missas solenes, é a componente de lazer e diversão que mais gente traz à festa. A alegria que se faz sentir por estes dias é contagiante, devido às coloridas iluminações, aos divertimentos e aos concertos, incluindo as atuações das bandas filarmónicas e dos grupos de bombos e concertinas. A feira de artesanato e as barraquinhas de comida são outras das atrações. Na noite de 23 para 24 de junho — o momento mais aguardado da romaria —, milhares de foliões, locais e forasteiros percorrem as ruas da cidade, ao som das rusgas, e convivem até o sol nascer!
Esta recriação histórica é já um marco no calendário de todos os bracarenses — e não só —, realizando-se em maio. Durante cinco dias, Braga volta atrás no tempo e transforma-se em Bracara Augusta: há mercado e tabernas romanas, há música e dança da época, cortejos alegóricos e encenações diversas que aludem à origem bimilenária da cidade. E o mais curioso é que não são apenas os figurantes que se vestem a rigor: ano após ano, cada vez mais visitantes fazem questão de envergar túnicas, usar coroas de flores ou de louros na cabeça e calçar as famosas sandálias de atilhos.
Se dúvidas houvesse que quem é de Braga adora divertir-se e aproveitar o melhor da vida, a Noite Branca poderia confirmá-lo. E se começou por ser, de facto, uma noite, agora já são duas! Este evento anual realiza-se no início
de setembro e convida o público a vestir-se de branco, sair para a rua e usufruir de concertos e performances artísticas originais. Há ainda divertimentos e pequenos eventos paralelos que cruzam diferentes artes e gerações.
Os Encontros da Imagem são um festival internacional de fotografia e artes visuais, que conta já com mais de trinta edições. Acontece todos os anos no outono, nos meses de setembro e outubro, e desdobra-se em inúmeras iniciativas, que se podem gabar de ter um público vasto e fiel. As exposições, as conversas com os artistas e as sessões de cinema, entre outras atividades, são distribuídas por diferentes espaços, para que possas usufruir de circuitos dinâmicos e sair dos Encontros com as baterias da cultura carregadas!
Uma tradição recente, mas que os bracarenses — incluindo o Fidalguinho! —, já não dispensam: comer uma banana acompanhada de moscatel numa das lojas mais emblemáticas da rua do Souto: a Casa das Bananas, também conhecida como ‘Bananeiro’. Tudo começou quando o filho do dono da loja resolveu levar um grupo de amigos ao estabelecimento, ao fim da tarde de uma véspera de Natal, para conviverem e comerem uma banana acompanhada de um copo de moscatel — ambos os produtos eram vendidos na loja e o seu pai tinha descoberto que era uma boa combinação. O momento foi tão agradável, que se repetiu no ano seguinte, e no outro, cada vez com mais amigos. O passa-a-palavra foi de tal ordem, que atualmente as ruas do centro ficam apinhadas de grupos de amigos, que ali se reúnem antes de rumarem às suas casas para a Ceia de Natal.
O mais castiço anfitrião de Braga pode não saber línguas estrangeiras nem ter sido o melhor aluno a português, mas se há algo que domina são as expressões típicas de Braga, ou relacionadas com a cidade, e a gíria minhota, por isso, preparou para ti um pequeno dicionário:
“Aqui há atrasado”
há uns tempos
“Basqueiro”
muito barulho
“Begueiro”
pessoa burra e de caráter questionável (lê-se bégueiro)
“Canastro”
corpo
“Cabaneiro”
coscuvilheiro
“Chieira”
vaidade
“Estar barado”
estar espantado, surpreendido
“Fazer a pomba”
ganhar muito dinheiro; sair à pessoa um prémio milionário
“Forrinhos”
sótão
“Lapada”
bofetada
“Peteiro”
pessoa que gosta de ‘meter petas’, ou seja, contar mentiras
“Pouco chiqueiro”
pouco barulho
“Ser um neca”
ser uma pessoa pouco instruída ou pouco desenrascada
“Sostra”
pessoa preguiçosa
“Taluda”
mulher alta e forte
“Telhudo”
teimoso
“Mandar abaixo de Braga”
insultar
“Mais velho que a Sé de Braga”
usa-se para descrever algo que é muito antigo
Com vinte e muitos anos, nascido e criado em Braga, o Fidalguinho é o guia turístico mais acarinhado da cidade. Otimista, descontraído e muito falador, conhece histórias e piadas capazes de alegrar o espírito da pessoa mais empedernida. Em pequeno, já se destacava na rua do Souto, onde cresceu na mercearia da sua avó Maria. Aliás, é comum ouvi-lo a afirmar, orgulhosamente, ser a pessoa que mais subiu e desceu aquela mítica rua. Sempre de sorriso posto, não perde uma oportunidade de conhecer pessoas e de lhes mostrar o burgo pelo qual é apaixonado. Com uma energia contagiante, fala tão rápido que parece que as suas palavras estão a correr uma maratona! Encontra beleza em qualquer cantinho da cidade e basta que ouça a palavra ‘Braga’ para ficar todo arrepiado. Apesar de não ser fluente em inglês — nem em qualquer outra língua estrangeira, sejamos sinceros —, o Fidalguinho tem o dom de se fazer entender através de gestos cómicos e expressões faciais hilariantes. Consegue assim comunicar com toda a gente, venham da vizinha Espanha ou da lonqínqua Mongólia: um verdadeiro mestre na arte da mímica turística. Só há uma coisa que nunca entendeu: por que raio se chama Fidalguinho?